O mercado automotivo é um dos setores com grande relevância na economia mundial. No Brasil, ele representa mais de 22% do PIB industrial! Contudo, apesar de sua relevância e tamanho, não está imune aos efeitos da economia e mudanças de comportamento dos consumidores.
Então, como foi 2021? Um ano inteiro de pandemia, muitas mudanças, alta volatilidade econômica, problemas na cadeia de suprimentos mundial que levou a redução, paralisação e até mesmo o fechamento de fábricas inteiras no país… realmente 2021 foi um verdadeiro desafio.
Vamos conferir o panorama do mercado automotivo em 2021 e conhecer quais são as perspectivas para 2022? Continue lendo e confira!
O mercado automotivo em 2021
O prognóstico para 2020 era muito sombrio. Desde o segundo trimestre, quando a pandemia causada pelo COVID-19 forçou o fechamento dos serviços não essenciais e restringiu a circulação das pessoas, as previsões dos resultados em 2020 eram de queda na demanda, falta de dinheiro nas mãos do consumidor, recessão e desemprego.
Acontecimentos de 2021 que tendem a ecoar em 2022
O ano passado foi repleto de acontecimentos no mercado automotivo. Os efeitos desses eventos tendem a impactar as perspectivas e resultados em 2022, bem como podem colaborar para um entendimento sobre a visão que os grandes players do mercado têm do futuro automotivo no Brasil.
Ford encerra produção no Brasil. Mercedes-Benz vende fábrica. Mas BWM, Volkswagen e Renault anunciam investimentos no país.
2021 teve diversas mudanças no cenário da indústria automotiva no Brasil. Em janeiro, a Ford anunciou o fim da produção no Brasil, após mais de um século no país. Isso resultou na demissão de 5 mil trabalhadores e custos na ordem dos US $4,1 bilhões. Em agosto, a Mercedes-Benz confirmou a venda da sua fábrica desativada no interior paulista.
Entretanto, 2021 não foi o ano em que as montadoras saíram do Brasil. Pelo contrário, BMW, Volkswagen e Renault anunciaram uma série de investimentos.
No mês de março a francesa Renault divulgou seu programa de investimento no Brasil de R$ 1,1 bilhão até o primeiro semestre de 2022. O valor será aplicado para renovar cinco dos seus modelos produzidos no país, introduzir novas versões com o novo motor turbo e trazer dois veículos elétricos para o mercado brasileiro.
Em novembro, a BMW confirmou que investirá R$ 500 milhões para produzir os novos modelos X3 e X4, além de um terceiro modelo. O valor será aplicado ao longo dos próximos três anos.
No mesmo mês, a Volkswagen anunciou investimento de R$ 7 bilhões na América Latina até 2026, após finalmente voltar à lucratividade na região depois de quase uma década de prejuízos. O valor, entretanto, será dividido entre o Brasil e a Argentina.
Os problemas na cadeia de suprimentos mundial
Os anúncios de investimentos no país são bastante animadores. Entretanto, o cenário global é instável por diversos motivos.
Ainda que os investimentos em fábricas no Brasil sejam positivos, é importante que tais fábricas tenham os insumos necessários para produzir os veículos.
A falta de semicondutores foi um dos maiores problemas em 2021. No Brasil, a falta do componente afetou 14 fábricas, com perda de produção estimada em 220 mil veículos. A escassez levou à redução ou mesmo total paralisação de linhas de mais de 40 modelos.
Fábio Sacioto, diretor regional do Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças) em Minas Gerais e presidente do Centro Industrial Empresarial de Minas Gerais (Ciemg), ressalta que esse é um problema global.
A queda na produção não é por queda na procura. Na verdade, “tem demanda, as montadoras colocaram a projeção para cima e as empresas de chip não conseguiram atender”, comenta Fábio.
Como resultado, a indústria automotiva não conseguiu entregar todos os pedidos das concessionárias neste ano. Muitas fábricas chegaram a dar férias coletivas ou negociaram sistemas de lay offs, que é quando o contrato de trabalho é suspenso temporariamente, mas o funcionário não é demitido.
Como foram as vendas automotivas
Somando o mercado automotivo completo (automóveis, comerciais leves, caminhões, ônibus, motos e implementos agrícolas), as vendas cresceram 10,57% em 2021, segundo a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave).
Na avaliação de José Maurício, presidente da Fenabrave, “Ainda vivemos uma crise global, de abastecimento de insumos e componentes na indústria, e novos desafios têm surgido para o setor, como os constantes aumentos nas taxas de juros, que vêm impactando nos financiamentos. Ainda assim, conseguimos fechar o ano de 2021 com o 12º melhor resultado, desde 1957”.
Entretanto, a paralisação das fábricas sem componentes prejudicou bastante o resultado do ano. Para 2021 inteiro, estima-se que cerca de 500 mil carros deixaram de ser produzidos.
O segmento de caminhões, por outro lado, foi o que mais cresceu, avançando 42,82% em relação a 2021. O destaque foi para os pesados, com 50,84% das unidades vendidas, impulsionado pelo crescimento do agronegócio, construção civil e mineração.
Resiliência das mecânicas automotivas e autopeças
Enquanto a indústria se viu com inúmeros desafios, o setor de autopeças e reparação avançou com bastante fôlego, crescendo em 25,2% o faturamento em 2021, atingindo os R$ 158,1 bilhões e mantendo perspectivas positivas para 2022.
O ano também foi marcado por bastante investimento no setor: foram cerca de R$ 2,1 bilhões investidos, um aumento de 90,9% em relação ao ano anterior. Os postos de trabalho também cresceram, saltando de 232,9 mil em 2020 para 241,1 mil em 2021 (alta de 3,5%).
A manutenção de veículos movimenta cerca de R$ 128 bilhões todos os anos. Só no Brasil, temos mais de 100 mil oficinas, em sua maioria de pequeno porte, gerando mais de 750 mil empregos diretos e indiretos.
Ao passo que os dados do Simples Nacional (Sinac) mostram que o número de oficinas mecânicas mantidas por micro e pequenos empresários em todo o Brasil cresceu 11,5% em relação ao ano passado, mesmo com a crise econômica!
Esse mercado ainda há muito a crescer, além de ter forte resiliência. Com a crise econômica, muitos preferem ficar por mais tempo com o mesmo veículo (aumentando a demanda por manutenção) do que trocar por um novo, por exemplo.
Perspectivas para o mercado automotivo em 2022
Avanço na produção e venda de veículos novos
A compra de veículos usados segue aquecida, sendo que para cada veículo novo vendido, em média, 3,1 carros usados são negociados.
Diante desses cenários, entidades representantes dos distribuidores de veículos, apontam alta de 5,2% para o setor em 2022, uma redução frente ao avanço de 10,57% de 2021 sobre 2020.
Fábio Sacioto, por outro lado, é mais otimista e projeta um crescimento de 12% na produção de novos veículos em 2022. Para Fábio, a falta de insumos e componentes eletrônicos não será capaz de reduzir a produção neste ano, além de ter expectativa que a cadeia de suprimentos se recupere ainda no primeiro semestre.
Além disso, fábricas que haviam paralisado as produções devido à pandemia reativaram as linhas de produção ainda em 2021. Assim, 2022 inicia com a indústria em sua capacidade normal, o que permitirá o avanço do mercado.
Tendências para 2022 no setor de reparação automotiva
O mercado de reparação automotiva, como visto, está crescendo e mostrando sua resiliência em tempos de crise. Além disso, há uma forte tendência para manutenção de veículos cada vez mais tecnológicos.
Por isso, uma demanda crescente a ser explorada em oficinas, autopeças e centros automotivos é a revenda e reparo de componentes eletrônicos.
O mercado de motocicletas também está bastante aquecido. Com o avanço dos serviços de entregas, a participação das motos no mercado vem crescendo a uma taxa de 6% ao ano!
A reparação automotiva tende a crescer em 2022. Como visto, o mercado de usados teve um crescimento vertiginoso — chegou ao ponto de que os usados eram tão procurados que seus preços estavam mais caros do que carros novos!
Além disso, os consumidores de veículos não são apenas donos particulares. Um público a ser bastante explorado pela reparação automotiva são os clientes corporativos, como seguradoras, transportadoras, cooperativas de transportes e empresas em geral.
Embora a compra de veículos novos seja positiva para renovação da frota, em 2020 a maioria dos veículos das frotas (63%) têm mais de 5 anos de idade. Assim, oficinas e centros automotivos possuem um mercado de clientes corporativos com enorme potencial para serem explorados.
Devido às dificuldades financeiras impulsionadas pela pandemia e a alta na inflação e juros, isso poderá afetar as vendas de veículos novos, o que é uma boa notícia para o mercado de reparação automotiva.
Oportunidades no mercado de oficinas
A queda na venda de carros novos no Brasil gera oportunidades para as oficinas. Com uma frota de veículos com vários anos de uso, sendo a maioria com mais de 5 anos, a busca por oficinas vem crescendo cada vez mais.
A pandemia, por outro lado, também levou ao crescimento de compra de veículos pela população de classe C. Devido aos reflexos do vírus, muitas pessoas ficaram com medo de transportes coletivos, levando a procurar pelo carro próprio.
Como a maioria dos veículos negociados são usados, ou seja, sem garantia de fábrica, a busca por oficinas mecânicas se torna cada vez mais latente — uma ótima notícia para todos os empresários do ramo!
O vírus também ocasionou uma grande perda de empregos, que foi refletida na alta de novos motoristas de aplicativos. Assim, essa é uma grande oportunidade para o mercado de oficinas, uma vez que os motoristas de aplicativos precisam de manutenção preventiva para trabalharem — apesar de muitos ainda ignorarem a necessidade desse serviço.
Outra tendência bastante importante para as oficinas é o público feminino! Cada vez mais as mulheres levam seus carros pessoalmente à mecânica. Além disso, representam um público mais exigente e desconfiado.
A sustentabilidade nas oficinas também é um ponto de destaque. Como as mecânicas geram bastante resíduos, boas práticas de descarte são bem-vistas pelos clientes.
Contudo, mecânicos possuem diversos desafios a serem vencidos. Um dos grandes problemas são:
- Reclamações de clientes;
- Baixa qualidade das peças;
- Erros nas compras das peças;
- Falta de agilidade nos serviços e atraso nas entregas;
- Dificuldades de fluxo de caixa.
Em suma, pode-se observar que o crescimento das oficinas também aumenta seus desafios. Isso reflete diretamente em como distribuidores automotivos podem se posicionar para aproveitar o crescimento do setor ajudando os mecânicos.
Com alta na demanda e falta de mão de obra, mecânicos se veem com ainda menos tempo para as tarefas administrativas, como a compra de peças. Assim, uma oportunidade para distribuidores é desenvolver um processo de pedido simplificado e que proporcione menos chances de erros — com certeza isso fará total diferença para o mecânico, aumentando os resultados da distribuidora.
Enfim, o pós-venda dos distribuidores se torna ainda mais importante para reter os clientes, evitando cair na armadilha da batalha por preços. Contudo, os desafios da cadeia de suprimentos podem dificultar a entrega de pedidos, por isso a logística na distribuidora precisará de bastante atenção em 2022.